domingo, 25 de dezembro de 2011

Por uma vida familiar feliz


Allah Todo-Poderoso fez o atributo da Unicidade exclusivo para Ele, e criou todo o restante da criação em pares. Ele estabeleceu a lei de atração entre sexos opostos com a finalidade de uni-los através do matrimônio, para que eles alcancem a perfeição tanto material quanto espiritual. É interessante que Allah também criou o amor mundano entre um homem e uma mulher como um degrau na escalada até o amor divino. Por isso, Allah Todo-Poderoso ordenou o casamento para a humanidade com o intuito de preservar a perfeição da qual ela foi dotada e para preservar a descendência humana de toda a sorte de corrupção.

Através do casamento a humanidade pode proteger suas mais belas características que fazem de nós verdadeiros seres humanos. O casamento é o santuário social e espiritual para o desenvolvimento da humanidade. O verso a seguir: “E Nós criamos o homem na mais perfeita proporção" (Qur'an 95/4) é relacionado ao casamento saudável.

Através do cumprimento adequado da instituição do casamento, a alma humana pode encontrar paz e contentamento, o corpo encontra seu equilíbrio e consequentemente é desenvolvida e aperfeiçoada a moralidade humana possibilitando o bem-estar e a segurança da sociedade. Na ausência do casamento, esta delicada ordem pode ser quebrada. O casamento também possibilita aos casais desenvolverem suas habilidades latentes.

Uma mulher, através da demonstração de afeto e preocupação com os seus filhos, aperfeiçoa o seu amor e misericórdia mais do que incontáveis horas de trabalho espiritual e aprende como ser uma boa mãe, educadora e mediadora. Um homem aprende como ser mais responsável através da liderança familiar a adquire mais maturidade. A união familiar é a menor união social, mas esta é a união mais significativa para todas as nações. Por isso, todos os profetas, com exceção do profeta Jesus, que foram criados com o paraíso, foram casados.

Após o presente da taqwa (piedade) o mais significativo favor de Allah para seu servo é encontrar uma boa esposa. Uma boa esposa é a parte mais essencial da felicidade humana. A força de uma nação depende da força dos laços familiares. O Sagrado Qur'an indica que a instituição do casamento é um sinal de Allah: "Entre os seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos." (Qur'an, 30/21).

Este verso nos dirige para refletir sobre o fato de que o propósito primário do casamento é alcançar um estado de amor e misericórdia por amor a Allah. Por isso, o Profeta Muhammed (s.a.a.s) sempre aconselhou aqueles que estavam pensando em casar a procurarem bons crentes que tem amor e misericórdia em seus corações.

No seguinte hadice o Profeta (s.a.a.s) aconselhou um homem que queria casar: “Existem quatro requisitos que as pessoas procuram quando querem casar com uma mulher, são elas, sua riqueza, o status social de sua família, sua beleza e sua religiosidade. Então você deve se casar com a mulher religiosa (de outro modo) você se encontrará entre os desafortunados.” (Bukhari, Nikah).

A instituição do matrimonio despenha um grande papel na preservação de uma elevada moralidade na sociedade; sem moralidade uma sociedade pode facilmente se tornar corrupta e dissolver-se em prazeres mundanos e egoísmo. Assim, a família e a sociedade devem permitir que os jovens se casem quando atingirem a idade própria para tal e as necessidades básicas para o casamento devem ser facilitadas o máximo possível para que os jovens possam obter-las.

Por isso, o Profeta (s.a.a.s) descreve o melhor casamento como aquele que não demanda de gastos excessivos. Se os requisitos materiais do casamento aumentam drasticamente os jovens podem adiar o casamento devido à incapacidade de lidar com um fardo financeiro maior que suas possibilidades. Assim, seus desejos só podem ser satisfeitos através de relações sexuais imorais e ilícitas. Frustrando assim o objetivo de estabelecer uma vida familiar estável. Isto é um suicídio para a sociedade. A única solução que pode impedir esse desenvolvimento negativo é dar total apoio para aqueles que querem se casar seja espiritualmente ou financeiramente. 

Ibn Arabi aconselhou os muçulmanos ricos a ajudarem os casais, afirmando que a maior e mais continua caridade (sadaqa jariyah) é ajudar que se realize um casamento. Aqueles que possibilitaram a realização de um casamento serão recompensados, assim como receberão uma parcela das boas ações realizadas pelos filhos desse casal.

A fim de tornar mais fácil o casamento, o primeiro passo é cortar todos os gastos para se casar e tendo o mínimo e básico para prevenir-se de toda sorte de gastos desnecessários. Em particular, em algumas cerimônias de casamento, bebidas alcoólicas são servidas para atender os desejos dos convidados. Se o primeiro passo do casamento for feito com ações conhecidas como haram (ilícito), como nós podemos esperar um futuro feliz para esta família? Allah abençoa as cerimônias de casamento que são executadas dentro dos limites do Islam através da aceitação das orações e suplicas que são feitas nestas ocasiões.

Se os casais não apreciarem o significado do casamento e somente considerarem-no como um ato formal para permanecer junto a alguém, este tipo de mentalidade geralmente resulta em dissolução. No Islam, de todas as coisas permitidas por Allah, o divorcio é o ato mais desprazeroso. No seguinte hadith, o Profeta (s.a.a.s) determina:

“Casem-se e não se divorciem! O Trono de Allah treme com o divorcio.” (Muhtar al-Ahadith al-Nabawiyya,228)

Em particular, isto é verídico quando um dos cônjuges sai ou viola a santidade do matrimonio devido apenas pela insana busca do prazer ou quando não há nenhum problema no relacionamento. Este é um pecado que não é perdoado por Allah, uma vez que o cônjuge tem descuidadamente destruído os direitos e a confiança do outro cônjuge.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ali Ar-Ramitani (Rahmatullahi Aleihi)

Ele tinha estatura mediana, com uma face agradável. Ele foi bem construído. Ele era um tecelão que preferia uma vida humilde. Ele gostava de estar com as pessoas comuns. No caminho Khawajagan da tariqa naqshbandi, ele foi chamado “Azizan”. Leia mais aqui.

Ali Ar-Ramitani (Rahmatullahi Aleihi)

Ele tinha estatura mediana, com uma face agradável. Ele foi bem construído. Ele era um tecelão que preferia uma vida humilde. Ele gostava de estar com as pessoas comuns. No caminho Khawajagan da tariqa naqshbandi, ele foi chamado “Azizan”. Ele foi um santo completo que realizou maravilhas e tinha um status espiritual.
 
O décimo terceiro anel da cadeia dourada, Ali Ramitani, conhecido como "Azizan", foi o segundo califa de Mahmud Faghnawi. Ele é o chefe do caminho Khawajagan que leva ao Shah Naqshbandi. Ele nasceu em Ramiten. Ramiten era uma grande cidade a 11 km de Bukhara. Foi lá que Ali Ramitani foi treinado. Ele participou de palestras com eruditos do seu tempo. Ele foi também um tecelão. Ele foi contemporâneo de Sheikh Rukneddin Aluddevle Simnani e Seyyid Ata, que eram descendentes de Ahmed Yesevi. Depois de familiarizar-se com Mahmud Faghnawi, ele passou a segui-lo. O Nefehat e Reshehat narrou os eventos que ocorreram entre eles como histórias épicas.
 
Faghnawi, em seu leito de morte, confiou a Ali Ramitani o direcionamento de seus irmãos na tariqa. Foi narrado que Ramitani viveu uma longa vida e que tinha muitos murides (discípulos). Ele morreu em 721H/1321 d.C. seu tumulo é em Ramiten acerca de 40 km da aldeia de Incirbag, em Bukhara. Embora Cami, em sua Nefehat, diz que Mevlana Jalaludin Rumi referiou-se a Ali Ramitani como nessac, ou seja, um tecelão, em uma de suas gazals, parece cronologicamente impossível, pois Mevlana morrerá cerca de quarenta anos (673H/1273d.C.) antes Ramitani (721H/1321d.C.). Embora na tradução do Reshehat, Cami, que escreveu o Nefehat, é apresentado como filho de Ali Ramitani, isto é errado.
 
Foi narrado que Ramiteni tinha um bom relacionamento com o Shah de Harezm. A história é a seguinte: Ao receber um sinal espiritual Ramitani decidiu imigrar para Harezm. Quando ele chegou à entrada da cidade, ele enviou dois murides ao Shah para pedir permissão para ficarem na cidade, e ele disse: “Vão ao Shah. Digam que um pobre tecelão chegou a cidade e pede permissão para ficar. Se ele aceitar, o tecelão entrará; se não, o tecelão retornará. Se ele permitir, o tecelão pede um documento afirmando isso.” 
 
Os dervixes realizaram seu pedido da carta. O Shah, que não estava acostumado a receber tais solicitações, num primeiro momento ficou surpreso. Então, ele concedeu o documento solicitado. Após os dervixes trouxerem o documento para o sheikh, ele entrou Harezm e se estabeleceu em uma casa em um bairro pobre. Depois de se mudar para a cidade, ele foi para o bazar aos empregados diaristas e disse-lhes: "Sua tarefa é executar imediatamente wudu (ablução) e participar de nossas palestras aqui até o anoitecer, e você será pago no momento da partida" Os trabalhadores aceitaram de bom grado esta oferta e gostavam de aderir às palestras. Ninguém queria abandonar as aulas depois que eles começaram a participar. A cada dia que passava, a casa do sheikh foi ficando cada vez mais lotada com a quantidade crescente de dervixes.
 
Com a propagação da fama do sheikh em torno de Harezm e pessoas se reunindo ao redor dele, algumas pessoas invejosas queixaram-se para o Shah. Eles disseram: "Se esta situação continuar, em breve ele será Shah e você vai perder seu trono." O Shah de Harezm imediatamente ordenou que Ramitani deixa-se Harezm. Mas Ramitani respondeu: "Nós temos um documento que nos permite ficar na cidade e é assinado pelo Shah. Se o Shah nega sua assinatura, então, vamos deixar a cidade". O Shah visitou o sheikh para evitar tornar-se tão insignificante a ponto de negar sua própria assinatura. Quando confrontado pela grandeza do sheikh, o Shah foi atraído para ele e se juntou ao posto de seus seguidores.
O encontro com Simnani
 
O escritor do Reshehat nos informou que Ramitani correspondeu-se com Alauddevle Simnani; diz-nos que Simnani enviou um emissário para Ramitani com três perguntas. Estas são as perguntas (e suas respectivas respostas) que foram enviadas:
 
1ª Pergunta: ambos estamos a serviço de todos. No que diz respeito ao tratamento das pessoas, você é, sem exercer a si mesmo, satisfeito com o que você tem à mão. Entretanto, embora nos esforcemos, as pessoas te amam mais do que a nós. Qual é a razão para isso?
 
1ª Resposta: Há muitos que servem esperando gratidão em troca de seus serviços. Não são poucos os que são gratos a servir as pessoas. Se você ver as pessoas que servem como um dom e ser grato àqueles a quem você está servindo, então todo mundo gosta de você e reduz-se o número de queixas.
 
2ª Pergunta: Nós ouvimos que você foi treinado por Khidr. Como isso aconteceu?
 
2ª Resposta: Há alguns servos de Allah que o amam e Khidr os ama.
 
3ª Pergunta: Ouvimos dizer que você abandonou o zikr[1]hafi[2] e estava realizando o zikr jahri[3]? Qual a razão para isso?
 
3ª Resposta: Ouvimos que você praticava o zikr hafi. No entanto, se temos sido capazes de ouvir isso, então o seu não é hafi, pois a peculiaridade do zikr hafi é de que ninguém pode ouvi-lo. Uma vez que ambos os zikr estão sendo ouvidos e conhecidos, então eles são os mesmos. Na verdade, nesta fase, o zikr hafi esta mais perto de hipocrisia do que o zikr jahri.
Outra vez, ele explicou a razão do porque que ele preferia o zikr jahri. “O Profeta de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) nos ordenou anunciar as palavras de unidade (La ilaha illa Allah) no nosso ultimo suspiro isto é chamado halet-i nez. Tasawwuf (Sufismo) significa considerar cada respiração como se fosse o ultimo suspiro. Por esta razão, não há problema em executar o zikr jahri, certamente, este caminho é melhor”.
 
Um dia, Bedreddin Meydani perguntou:
 
“O verso ‘Ó crentes, mencionai frequentemente Allah’ (Alcorão 33:41[4]) refere-se ao zikr jahri?” Ali Ramitali respondeu: “Isto é jahri para aprendizes e hafi para especialistas. Isto é com a língua no principio e com o coração ao final.”
 
Ali Ramitani via a fé como um assunto de entusiasmo e emoção. Quando ele foi perguntado “O que é fé?” ele respondia: “A fé é fazer um esforço e então alcançá-lo. É fazer um esforço sobre o masiva (tudo exceto Allah) e alcançar a Verdade (Allah).
 
Ali Ramitani foi cuidadoso sobre "Vera", que é descrito pelos sufis como a verificação da conformidade das coisas que entram pela boca e aquelas que saem da boca com Allah e Seu Profeta. Ele dizia: "Tome cuidado com duas coisas: aqueles que entram em sua boca enquanto come, e aqueles que saem de sua boca enquanto fala."
 
Ele dizia que existe tanto uma indicação e boas-novas no verso "Ó crentes, voltai, sinceramente arrependidos a Allah" (Alcorão: 66:8[5]). A indicação é de arrependimento, as boas-novas são para a aceitação do arrependimento, se o arrependimento não fosse aceito, não teria sido ordenado.
 
Ali Ramitani considerou que estar confiante sobre as boas obras era inaceitável, e que ele iria dizer que todos devem ser ligados as boas obras e executá-las corretamente, enquanto ainda estivessem vendo a si mesmo suas boas obras estavam incompletas, mas deveriam continuar a praticar boas obras.
 
Ele também disse que aqueles que lidam com a formação da comunidade devem reconhecer as habilidades e as deficiências dos alunos, como um domador de leões. O Murshid[6] deve agir da mesma forma como o domador de leões, ou seja, de acordo com as propriedades do animal/pessoa que está sendo treinado. Se o Murshid não faz isso não pode ser bem sucedido.
Em outro caso, comparando o Murshid com um treinador de pássaros, Ali Ramitani disse: "Um treinador deve saber a quantidade de alimento que o pássaro precisa e quanto eles podem segurar. Alimentação excessiva ou deficiente é prejudicial. O Murshid devem nortear o murides no zikr e mortificação (dos desejos mundanos) que diz respeito à capacidade dos murídes. A instrução precisa nem ser deficiente, nem excessiva, porque então ela será ou não suficiente ou excessiva para a murides. "
 
Ali Ramitani sabia que no caminho para chegar à Verdade (Allah) deve-se entrar um coração. Para wuslat (união com O Amado), os murides devem ser submetidos a muitas dificuldades.
No entanto, existe outra forma de wuslat que permite a alma chegar com rapidez e precisão no destino. Este é entrar em um coração que se dedica a Allah. Esses corações são nazargah-al'ilahi. Tais pessoas são amantes de Allah, que levam as pessoas à verdade. É necessário entrar nestes corações, amando e sendo humilde na frente deles.
 
Um dia, o sheikh Rukneddin perguntou a Ramitani: "Em Bezm-i elest, foi quando o discurso divino ‘Não é verdade que sou o Vosso Senhor? ’ (Alcorão: 7/172) fora entregue, as almas.” Ramitali afirmou, respondendo: "Sim. No entanto, no Dia do Julgamento, ninguém será capaz de responder à pergunta: ‘Há quem, pertencera, nesse dia o reino?’ (Alcorão: 40/16) Por quê? "
 
Ramitani deu a seguinte resposta: "Bezm-i elest é o dia em que a Sharia[7] foi oferecida as almas. Na Sharia é necessário falar. Mas, no Dia do Juízo Final, a oferta não será mais válida. Por esta razão, não haverá fala naquele dia. E Allah, Todo-Poderoso vai responder a essa pergunta.”
 
Ramitani apresenta também alguns poemas do Reshehat além da narração de muitas obras de reflexão.

Altinoluk
2008 – Jan/Fev. Artigo nº 9 pag. 44

[1] Relembrar Allah através da recitação de Seus Santos Nomes.
[2] Zikr silencioso e secreto.
[3] Zikr Vocal e aberto.
[4] Para tal tradução do significado usei a contida em HAYEK, Samir E. Alcorão Sagrado: Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado.
[5] Idem.
[6] O guia espiritual e treinador.
[7] Lei Divina segundo a teologia islâmica.

Os intermináveis segredos do Amor


TOPBAS, Osman Nuri. Muhabah: O segredo do amor divino. Traduzido por Victor Granados Pascual. Istambul: Erkam, 2010.

           Assim como Flaubert escreveu seu clássico, Educação Sentimental nós devemos creditar a Osman Nuri Topbas o título, destacado, de grande personalidade do Islam na atualidade. Em seu livro Muhabah: O segredo do amor divino, Topbas explica os principais conceitos e características do sufismo, a via do amor islâmico, em capítulos curtos e de fácil entendimento, com maestria Topbas alinha a linguagem acessível a sua grande erudição.
Além de ser um mestre de uma das maiores e mais influentes irmandades sufis do mundo, a irmandade naqshbandi, fato esse que outorga a Topbas grande propriedade para falar sobre o tema em questão, Topbas também demonstra por todo o livro a sua paixão pela poesia. A marca registrada de Muhabah, e dos escritos do shaykh Osman Nuri, é a capacidade de explicar elementos da erudição e da teologia islâmica através das passagens do sagrado Alcorão e dos renomados compiladores de hadiths (os livros que relatam os ditos e feitos do Profeta Muhammed e que são fundamentais para o credo sunita), Topbas consegue ir além e correlacionar essas fontes coma poesia dos grandes poetas islâmicos do período clássico.
Essa característica no estilo de escrita de Topbas deixa o texto infinitamente mais interessante, com profunda projeção visual dos conteúdos abordados com base na exemplificação dos mesmos através de poemas e pequenas histórias sufis. O shaykh Osman Nuri utiliza largamente as poesias de figuras impares do Islam na Idade Média e Moderna como Jalal al Din Rumi e Yunus Emre, associado a referências a pequenas histórias de Shibli, Bahaudin Naqshbandi, Haci Bektashi Veli ou Abu Hamid al-Ghazzali (um dos maiores intelectuais da história do Islam), entre outros.
A erudição de Topbas se revela na própria composição do livro, os capítulos apresentam temas bastante específicos, no entanto ao final da leitura do livro o leitor sente-se como um explorador que percorreu grande distancia por uma única estrada, graças ao texto fluídico e ao domínio do tema por parte do autor. Fica claro ao ler Muhabah, que Topbas preocupasse em mostrar o Islam como uma religião sistêmica e demonstrar a importância de cada elemento da espiritualidade islâmica, e toda a sabedoria que esconde-se por trás desses elementos.
Muitas passagens do livro são convidativas a uma profunda meditação e subseqüente reavaliação do estilo de vida optado por nós na modernidade. Os capítulos têm a capacidade de nos tocar, devido à sensibilidade do autor e nos questionar a cerca de nossas atitudes como no trecho abaixo:

"A misericórdia é um fogo que nunca se extingue no coração de um muçulmano. Nesse mundo, ela é a essência distintiva do ser humano, que nos conduz através do coração à união com o nosso Senhor. Um muçulmano compassivo é generoso, humilde e serve aos outros. Ao mesmo tempo, ele é um médico de corações que injeta vida na alma das pessoas". p. 151.
            Graças a essa aproximação com a poesia, Topbas recebe a liberdade textual para explanar de forma leve e cativante sobre as grandes responsabilidades que a fé nos impõe. É perceptível na leitura, mesmo que superficial da obra, que o autor buscou aliar a capacidade argumentativa advinda do intelecto e da lógica, mas sem ficar preso a ela, buscando a sensibilidade e a sabedoria que só se aprende com a vida para decodificar os estágios e desafios da vida humana.
Entretanto, o maior mérito de Topbas, ainda assim, é a clareza e riqueza do seu texto, Muhabah é um livro de tamanha poética e plasticidade que vai além de uma simples obra religiosa. O grau de amplitude do texto ecoa para dentro do leitor, fazendo com que o processo de assimilação das idéias se dê de maneira fácil e passando a sensação para o leitor de que este realmente se apropriou da sabedoria e da motivação do dos ensinamentos islâmicos.
É sem dúvida leitura obrigatória para todos os interessados no Islam, não somente no seu viés mais místico-contemplativo, mas também para todos aqueles, muçulmanos ou não, que pretendem obter um conhecimento mais aprofundado e sensível da religião islâmica. A tradução deste livro é sem dúvida uma grande vitória para a comunidade muçulmana do Brasil, e por tanto, gostaríamos de render nossas mais sinceras homenagens e gratidão ao núcleo editorial em língua portuguesa da Editora Erkam de Istambul, e ao tradutor da obra o Sr. Victor Granados Pascoal pelo benefício proporcionado a todos os praticantes, pesquisadores e amantes dessa fé que apesar de ter a sua imagem tão desgastada pela mídia ocidental, devido a fatos que nos remetem inevitavelmente a pergunta: O Islam apresentado por Osman Nuri Topbas tem a capacidade de ferir ou ameaçar algo ou alguém? Acredito que todos que leram as obras de Topbas estão convencidos que o Islam é realmente uma religião pacífica, moderada e preocupada com o bem-estar e a promoção de uma cultura de paz e fraternidade.

O Alcorão e a Contemplação

Perfeição é um atributo divino de Allah que é manifestado neste mundo de três formas: Na Humanidade, no sagrado Alcorão e no universo.
O homem foi criado com todos os atributos divinos, que são a base para a essência de toda a criação. A mesma manifestação dos nomes ainda é visto de uma forma diferente: as palavras do Alcorão. Comparado ao homem, o Alcorão é a manifestação mais elaborada, mas devido a unidade existente entre eles, é dito:
“A Humanidade e o Alcorão são uma dualidade...”
O terceiro local onde as manifestações dos Divinos Nomes ocorrem é no universo.  Que é uma espécie de interpretação do Alcorão. O universo é um Alcorão silencio e o Alcorão é um universo repleto de palavras. Dentro destes raios sonoros e silêncios do Alcorão, o ser humano é em sua essência uma criatura da Perfeição. Como resultado, a humanidade, o Alcorão e o universo são uma trina manifetação do Deus Unico. Como os céus marca o reinado de poder para as estrelas, até o dia do julgamento, assim no Alcorão,  a prosperidade e o futuro dos seres humanos vai brilhar no céu de "versos" e viver até o dia do julgamento. A partir desta perspectiva, o mais afortunado e prospero é aquele que se reuni sob a sombra do Alcorão recebendo seus beneficios.
Os segredos sobre toda a verdade e misterios esta oculto no Alcorão e toda a alegria se torna aparente com a fé. Allah o Todo-Poderoso pode esconder um grão de areia do mar, ou um oceano de areia, ou pode fazê-los visiveis a ambos.
Mawlana Rumi relatou aos seguidores mostrando-lhes esta realidade:
“ Uma vez tive a aspiração em ver a Luz de Deus no Homem. Era como se eu quisesse ver o mar em uma unica gota ou o sol em um unico raio.”
O principal meio para o filho do homem de atingir seus verdadeiros desejos e aspirações é a contemplação da verdade. A única maneira de alcançar a essência da verdade é através da contemplação e curiosidade.
Através da contemplação do coração, efeitos sutis do mundo e seus mistérios são manifestados. As exceções são para aqueles que vivem suas vidas em violação do imperativo do Divino Criador, perdendo suas vidas sem saber o verdadeiro valor de qualquer um dos seus desejos ou de si mesmo, incapaz de alcançar a riqueza espiritual necessária para a prosperidade eterna, eles vivem em um abismo de frustração.
Os seres humanos devem viver suas vidas com honra e dignidade, com realizações e contemplação das conseqüências da morte. A morte, que nos rodeia como um anel de chamas que vai esmagar-nos, sem dúvida. Quando o futuro torna-se uma inescapável realidade, a contemplação, torna-se clara para o homem, é a coisa mais valiosa da qual ele se ocupa. Com isso em mente, se o filho do homem familiariza-se com o segredo do universo, do Divino e da sabedoria, para ele encontrar o verdadeiro caminho da contemplação, é preciso de orientação do Alcorão.
Se fosse possível ao homem agir, viver e perceber sozinho, apenas através da contemplação, não haveria necessidade de um Alcorão, e Deus o Todo-Poderoso, então não teria enviado mensageiros ou Escritura.
Ou seja, a natureza do homem exigiu uma orientação Divina para exercitar suas faculdades criadas para instrução e contemplação.
Sem o Alcorão sempre será possível ao homem chegar ao conhecimento de determinados atributos de Deus, tais como singularidade[1] ou auto-suficiência[2]?
O Alcorão orienta-nos para a senda reta, com avisos e, a partir deste oceano de verdades nos beneficia da melhor maneira possível, com a contemplação e a paixão.
Se o Alcorão não nos tivesse aberto as portas para a contemplação, teríamos sido privados de muitas realidades, percepções e benefícios. Considerando isso, é preciso gastar todas as nossas energias intelectuais na busca de entender o conteúdo infinito do Alcorão, é claro, isto deve ser realizado dentro de limites específicos. Os versos do Alcorão, como um sistema vivo, são uma fonte inesgotável de conhecimento.
O Alcorão tem muitas advertências, juntamente com as orientações e escopos, para a humanidade sobre como devemos conduzir a nossa contemplação e investigação. Devemos, em todos os sentidos, compreender e reconhecer que a cada ser humano tem sido dada a inteligência para avaliação, e a verdade do Alcorão é de tal grandeza que se render a sua sabedoria é absolutamente necessário para todos.
Quando uma pessoa percebe sua incapacidade de compreender adequadamente qualquer comentário do Alcorão devem dizer "Deus sabe melhor ..." temos de acreditar que a verdade real é conhecido somente por Deus, o Todo-Poderoso.
Talvez não haja diferença significativa entre as características da água da torneira nas nossas casas e água do mar, não há, no entanto, uma diferença significativa entre as quantidades de agua das duas? Se uma pessoa cega desde o nascimento, tivesse sido descrito a ele certa cor, as palavras que ele iria usar dariam talvez uma boa impressão para ele, mas quão longe iria a impressão em sua mente a partir da realidade da cor da sua existência real? Isto é imensurável.
Temos de olhar para as palavras do Alcorão com a mesma lógica, e estando sempre ciente de nossa inaptidão e incapacidade para compreender plenamente o significado contido no Alcorão, o que deve nos impedir de afirmar que a nossa própria interpretação é perfeita ou exata.
O Alcorão é um guia único de fé e prosperidade, o qual contém muitos versos em que somos convidados a contemplar a sabedoria por trás da criação do homem. A natureza milagrosa do universo em muitos versículos nos mostram que o Alcorão é uma declaração desses milagres. Aqueles que optam por viver de acordo com a dignidade da humanidade deve seguir as orientações da contemplação indicadas no Alcorão.
As pessoas conscientes que contempla os eventos do universo devem procurar as respostas para estas perguntas:
O que é o universo? Por que fui criado? Qual é a verdade da mortalidade e da sua essência? Qual é o caminho para a prosperidade? Quem sou eu? Como devo viver? Como devo pensar? Quais são os preparativos que devo fazer para a minha saída do mundo mortal?
Embora o universo como um todo, não é perturbado pelo poder do homem e dos seus cálculos, existe uma maneira que o homem, como a maior criação e inteligência, poderia agir de acordo com o Alcorão e ainda ser derrotado por seu desejo e pelos desejos?
Deus disse no Alcorão:
“Pensais, porventura, que vos criamos por diversão e que jamais retornareis a Nós (para prestares contas)?” (Al Mu’minûn, 23:115).
“Pensa,acaso, o homem, que será deixado sem controle (sem propósito)?” ( Al Quiáma, 75:35).
A infância de uma pessoa termina na puberdade. Para os crentes que despenderem esforços para aperfeiçoar a sua fé, a puberdade marca o início de um novo período de responsabilidade. Durante este período são necessários a contemplação da maturidade, da mente, do coração, dos divinos segredos do universo, da sabedoria sagrada e a verdadeira consciência é apenas aparentes para as almas com a verdadeira fé. Como é afirmado no seguinte versículo do Alcorão:
“Porém, não reparam, acaso, no firmamento que está acima deles? Como o construímos e o adornamos, sem abertura aparente? – E dilatamos a terra, fixando nela (firmes) montanhas, produzindo ai toda a formosa espécie em pares, – Para a observação e recordação de todo o servo contrito. (Caf, 50:6-8).
Nós experimentamos o nascer e o pôr do sol, o surgimento de estrelas na noite e seu desaparecimento com a luz natural, a lua cheia e a lua crescente, o universo repleto de seus ornamentos magníficos e bênçãos inumeráveis ​​além destas. Algumas pessoas desperdiçam suas vidas neste mundo na cegueira e ingratidão por essas bênçãos, sem considerar a sabedoria destas criações ou a sabedoria de seu Criador. Aqui esta um aviso assustador para essas pessoas:
“E não foi em vão que criamos os céus e a Terra, e tudo quanto existe entre ambos!” (Sâd, 38:27).
“E não criamos os céus e a terra e tudo quanto existe entre ambos para Nos distrairmos. – Não os criamos senão como prudência; porém, a maioria o ignora.” (Ad Dukhan, 44:38-39).
O mundo celestial é uma notável exibição de sinais majestosos. Toda a alma de fé que, conscientemente, a vida nesta morada da beleza, ele que sensibiliza-se frente as calamidades do mundo e as catástrofes irá obter prazer espiritual. Nós lemos no Alcorão:
“Não reparas, acaso, em que Allah faz descer a água do céu e a transforma em fontes, na terra? Logo produz, com ela, plantas multicores; logo amadurecem e, às vezes, amarelam; depois converte (as plantas) em feno. Por certo que nisto há uma mensagem para os sensatos.” (Az Zúmar, 39:21).
“Na criação dos céus e da terra; na alteração do dia e da noite; nos navios que singram o mar para o beneficio do homem; na água que Allah enviou do céu, com a qual vivifica a terra, depois de haver sido árida e onde disseminou toda a espécie animal; na mudança dos ventos; nas nuvens submetidas entre o céu e a terra, (nisso tudo) há sinais para os sensatos.” (Al Bacára, 2:164).
Efetivamente, para quem vê a verdade, o amor da luz divina do paraíso e a paixão irrompendo como esmeraldas na terra. Os céus e a terra são como um anel, em torno do afeto que ele contempla profundamente, atento ao chamado aparente e espiritual, conciliando a evolução do amor pelo divino e o ato de viver em perfeição espiritual. 
Deus o Altíssimo revelou: 
“Ele foi quem dilatou a terra, na qual dispôs sólidas montanhas e rios, assim como estabeleceu dois gêneros de todos os frutos. É Ele Quem faz o dia suceder a noite. Nisto há sinais para aqueles que refletem.” (Ar Rád, 13:3).
Aqueles que encontram prazer na devoção a Deus, e que seguem o caminho de Seu mensageiro, une-se a um elo de afeição que é a linha de frente da fé. Fé (Imân) é um sentimento celestial da Luz Divina na alma e do fluxo do divino afeto alojado no coração.
Aqueles que observam o universo com um coração iluminado vão atingir uma sensação de como que os céus fossem um lustre de cristal brilhante piscando com os segredos Divinos. Todas as arvores sobre a terra se espalharam com seus ramos e folhas a tremerem em alegre suplica ao Criador. A grama será como os companheiros do mensageiro de Deus e as folhas acima serão a alegre comunidade (ummah). As nuvens serão como uma fonte flutuante de prosperidade que circulam o céu como um oceano. O vento será como um mensageiro de inspiração Divina a aliviar o medo com centelhas de esperança.  Trovões e seus raios de reinado e comandos de destruição e ataque avisando a cegueira.
Em breve o universo se manifestara como um silencio sedutor cheio de versos do Alcorão , o livro dos mistérios, os nomes divinos manifestados em verbos. O Alcorão e o universo cheios de palavras. A humanidade é o foco de conhecimento e a manifestação do cruzamento entre ambos. 
Sayyidina Aisha relatou sobre a compassiva alma do Profeta:

Certa noite, o Profeta disse-me: 'Ó Aisha, se você me der permissão, gostaria de passar a noite em adoração ao Todo-Poderoso." Eu respondi: ' Por Deus eu amo estar com você, no entanto, Eu amo ainda mais as coisas que amás. 'Então ele fez a ablução e pôs-se para a oração. Ele começou a chorar, tanto que suas roupas, sua santa barba e até o chão, onde ele se prostrou estavam molhados.
Durante esse estado, Bilal chegou para chamá-lo à oração; ao vê-lo naquele estado Bilal disse-lhe: 'Ó Mensageiro de Deus,  Allah, o Todo-Poderoso o perdoou, a você todos os seus pecados passados ​​e todos os seus pecados futuros, então porque você está chorando? 'O Profeta lhe respondeu: "Eu não deveria ser um servo agradecido de Deus? Por Deus, hoje à noite desceram para mim os versos (do Alcorão) de peso, de tal forma que se alguém lê-los e não contemplá-lo seria uma grande vergonha. "
Então ele leu este verso:
“ Na criação dos céus e da terra, e na alternancia do dia e da noite há sinais para os sensatos. – Que mencionam Allah, estando em pé, sentados ou deitados, e meditam na criação dos céus e da terra. Dizendo: Ó Senhor nosso, não criaste isso em vão. Glorificado sejas,! Salva-nos do tormento infernal!” (Al Imran, 2:190-191) (Esse dito foi compilado por Ibn Hibbân, II, 386).
Na noite em que esses versículos foram revelados a ele, o Mensageiro de Deus chorou até a manhã de tal forma que até mesmo os céus e as estrelas estavam com inveja dele. Com as bênçãos de Deus Todo-Poderoso as lágrimas dos fiéis tem a certeza de serem os adornos da noite da passagem, à luz da sepultura e as gotas de orvalho dos jardins do Paraíso. alguns meses, dias e noites de tal bênção que são momentos de oportunos para se estar com o Amado. alguns meses de mais valor do que outros. O mês de Rajab é um desses períodos.
Mesmo durante a época pré-islâmica, durante o chamado "período de ignorância", espadas eram mantidos em suas bainhas e a paz reinava durante este mês. Com o advento do Islã, a cortesia e honra durante o mês de Rajab continuou. Este mês sagrado foi agraciado com duas noites abençoadas, a primeira sexta-feira do mês chamado Raghâ'ib e a 27º noite do mês chamada Mi'raj.
Um dos nossos principais deveres deve ser passar essas noites abençoado adornando-se com amor espiritual pelo Profeta (que a paz e as bençãos estejam com ele), porque a afeição do Profeta é a nossa riqueza e felicidade. O sábio que obedecer ao Santo Profeta, com sincero afecto estarão entre os Profetas, os verdadeiros, os mártires, os virtuosos e todos aqueles que alcançaram as bênçãos de Deus Todo-Poderoso.
Que Deus o Todo-Poderoso encha nossos corações com transbordante prosperidade que estes sagrados e esclarecedores dias, noites e meses trazem, e que adornem os nossos corações com carinho para o abençoado Profeta. Que Deus nos dê a alegria de estar entre aqueles que vão acompanhar o Profeta no Dia do Juízo Final, aqueles por quem Ele vai interceder. Dar ao nosso mundo islâmico prosperidade, conquistas e abundância.
Ó Senhor! Nós somos viajantes a caminho de um lugar de profunda solidão. Faça de nossa fé, como o sol, os nossos companheiros como profetas e virtuosos, e que os nossos jardins da felicidade sejam nossas boas ações!
Ó Deus! Coloque-nos entre aqueles que olham com admiração para o universo e todos os seus fenômenos com a presença de coração! E dar aos nossos corações a bênção de seu comando poderoso: "Leia! "[3]
Amém

O original em inglês se encontra no link:
http://www.sufiwisdom.net/index2.php#sayfa=yillar&MakaleNo=d021s005m1



[1] Ahadiyyat
[2] Samadiyyat
[3] Segundo a tradição islâmica estas foram as primeiras palavras que o Anjo Gabriel (que a paz estejam com ele) disse ao Profeta Muhammed (que a paz e as bênçãos estejam com ele) em seu primeiro encontro na caverna. N.T.